O conceito de citizen developer não é novo, mas vem ganhando destaque à medida que a transformação digital acelera nas empresas. Esses profissionais, embora não possuam uma formação técnica profunda, são capazes de desenvolver soluções e aplicações usando ferramentas low-code e no-code. Segundo a Forrester, espera-se que o mercado de plataformas low-code cresça cerca de 15% ao ano até 2027, impulsionado pela necessidade de digitalização rápida e pela busca por eficiência nas empresas.

No Brasil, o uso de plataformas low-code e no-code já é uma realidade em grandes corporações, especialmente no setor financeiro e de serviços, onde a agilidade e a personalização das soluções são cruciais. Uma pesquisa recente da IDC aponta que cerca de 40% das empresas brasileiras planejam investir em soluções de desenvolvimento low-code até 2025, visando aumentar a eficiência operacional e reduzir a dependência de desenvolvedores especializados.

Para entender melhor esse movimento e como ele impacta diferentes perspectivas, realizamos um encontro com os experts da Mirante Tecnologia: Alejandro Angel, diretor de projetos, Rui David, head de digital e Rodrigo Melgar, especialista em inteligência artificial.




O conceito de citizen developer apresenta uma oportunidade significativa para empresas, especialmente em um ambiente onde a necessidade de inovação e eficiência é constante. Organizações dos mais diferentes setores têm buscado maneiras de agilizar seus processos de desenvolvimento de software, reduzir custos e capacitar suas equipes de negócios para serem mais autossuficientes.

No contexto de governança, uma das preocupações centrais das empresas é garantir que as soluções criadas por citizen developers sigam os padrões de segurança e conformidade. Segundo um relatório da PwC, cerca de 63% das empresas veem a governança como um desafio crítico ao adotar soluções low-code, destacando a importância de ter uma supervisão clara por parte da TI para evitar riscos. Contudo, quando bem implementadas, essas práticas de governança podem ser automatizadas através das próprias plataformas, facilitando o acompanhamento do que está sendo desenvolvido e garantindo a integridade dos dados.

Estima-se que a adoção de soluções low-code e no-code pode reduzir em até 20% os gastos com desenvolvimento de software, ao permitir que profissionais de negócios criem suas próprias ferramentas. Isso gera um ganho de tempo significativo e permite que as equipes de TI se concentrem em projetos de maior complexidade.




Este é um dos pilares que sustentam o crescimento dos citizen developers. Ao tornar ferramentas de desenvolvimento mais acessíveis, as plataformas low-code e no-code têm democratizado o processo de criação de soluções, permitindo que mais pessoas contribuam com a transformação digital das empresas. Essas plataformas, como a Microsoft Power Platform, OutSystems ou Mendix, oferecem interfaces intuitivas e componentes pré-configurados, o que simplifica a criação de aplicações.

Por exemplo, o Mentor, da OutSystems, reforça esse conceito ao posicionar-se como um “trabalhador digital” que utiliza inteligência artificial para automatizar várias fases do ciclo de desenvolvimento de software (SDLC). Desde a descoberta e prototipagem até à validação das aplicações, o Mentor possibilita que tanto os citizen developers como as equipas de TI desenvolvam aplicações de forma mais célere e segura. Além disso, oferece sugestões de refinamento contínuo e facilita a integração de agentes de IA nas soluções, tornando o fluxo de trabalho mais ágil”, exemplifica Rui.

O mercado global de low-code tem apresentado um crescimento acelerado, projetado para atingir US$ 26,9 bilhões até 2026, segundo a Research and Markets. Essa expansão reflete uma mudança significativa no modo como as empresas desenvolvem software, priorizando rapidez, flexibilidade e menores custos de desenvolvimento.

A integração de IA nas plataformas low-code é outro aspecto fundamental dessa temática. Hoje, ferramentas como o Mentor da OutSystems citado acima ou o Microsoft Power Automate e a integração com modelos de IA, como GPT, estão permitindo que citizen developers criem soluções ainda mais inteligentes e personalizadas, que vão desde chatbots até automações de processos complexos. Durante nossa roda de conversa, Rodrigo Melgar, especialista em IA da Mirante, destacou:

Além das plataformas, a governança tecnológica também desempenha um papel essencial. Frameworks de mercado, como o Power Platform Center of Excellence e o OutSystems Governance Framework, garantem que a inovação seja acompanhada de boas práticas de segurança e compliance, mantendo a gestão unificada dos sistemas.

Acredito que a governança deveria ser um dos primeiros assuntos a ser considerado na hora de planejar a implantação do trabalho a ser realizado pelos Citizens Developers na empresa, na Mirante estamos trabalhando na definição de um framework para tal fim, de forma a garantir que os itens mais importantes não sejam esquecidos no plano de implantação”, acrescenta Alejandro Angel, diretor de projetos.




Ao permitir que colaboradores de áreas não técnicas assumam um papel ativo na criação de soluções digitais, as empresas abrem novas oportunidades de desenvolvimento e ampliam o potencial de inovação dentro da organização. Mas esse movimento também traz desafios em termos de formação, integração com áreas técnicas e a necessidade de criar uma cultura colaborativa.

A capacitação é um dos principais pilares dessa transformação. Para que os citizen developers possam contribuir de forma eficaz, é fundamental que eles tenham acesso a treinamentos e ferramentas que facilitem o uso das plataformas low-code e no-code. Segundo um estudo da McKinsey, empresas que investem em treinamento contínuo para seus colaboradores aumentam a produtividade em até 25%. No Brasil, essa tendência tem se consolidado com o surgimento de programas internos de capacitação, que integram cursos sobre automação e desenvolvimento de aplicações com foco em low-code.

Além da capacitação, a colaboração entre citizen developers e profissionais de TI é crucial para o sucesso dessa abordagem. Ao trabalharem juntos, esses grupos conseguem criar soluções que combinam o conhecimento profundo dos processos de negócio com a expertise técnica da TI. Isso cria um ambiente mais dinâmico e ágil, onde as soluções podem ser desenvolvidas de forma mais rápida e adaptada às necessidades específicas dos usuários finais. Melgar complementa: “Ao democratizar o acesso à tecnologia, permitimos que profissionais de diferentes áreas transformem seu conhecimento de negócio em soluções práticas e inovadoras. É uma mudança fundamental onde a tecnologia deixa de ser um obstáculo e se torna uma ferramenta de empoderamento para todos na organização.”

Profissionais que antes tinham pouca ou nenhuma participação no desenvolvimento de tecnologia agora podem criar soluções para automatizar processos básicos da sua área, melhorar fluxos de trabalho e até mesmo desenvolver novas funcionalidades para clientes. Um exemplo prático é o uso de ferramentas low-code em áreas como Recursos Humanos e Marketing, onde automações simples, como formulários dinâmicos e integrações com CRM, podem ser desenvolvidas diretamente pelos times, sem necessidade de intervenção da TI.

É importante lembrar que a adoção de citizen developers exige uma mudança cultural dentro das organizações. É preciso que haja um ambiente que incentive a experimentação e valorize a iniciativa dos colaboradores. Essa mudança cultural faz com que a inovação seja mais orgânica, surgindo de diferentes áreas da empresa.



Em resumo

A abordagem dos citizen developers está moldando uma nova fase apoiando a aceleração da transformação digital das empresas. A combinação de ferramentas low-code ou no-code, a democratização da criação de soluções e a integração entre áreas de negócio e tecnologia são os motores desse movimento, que traz benefícios em produtividade, inovação e eficiência.

À medida que mais empresas brasileiras e globais investem nesse modelo, os desafios também surgem, como a necessidade de uma governança corporativa sólida, criando uma cultura de colaboração e integração com as equipes de TI. No entanto, para organizações que conseguem equilibrar esses elementos, os citizen developers oferecem uma maneira poderosa de acelerar a transformação digital, transformar processos e, acima de tudo, aproveitar ao máximo o potencial de seus colaboradores.